Coronavírus e o esgotamento mental: por que não aguentamos mais?

Cansaço, pressão e medo ainda ameaçam saúde mental, quase um ano depois da pandemia

Camila Tuchlinski, O Estado de S.Paulo

 

Esgotamento mental e seus efeitos

Nós estamos exaustos diante da pandemia de covid-19 porque passamos do limite da nossa capacidade de adaptação, para a neuropsiquiatra Gesika Amorim: “Difícil alcançar a resiliência. Fomos sacados da nossa estabilidade emocional de uma forma abrupta e ainda não a resgatamos. Continuamos tendo de nos adaptar às diferentes adversidades a cada dia”.

A velocidade das notícias e as constantes mudanças no quadro geral da doença fazem com que as pessoas se esforcem em busca de sobrevivência. E essa pressão pode nos levar a um alto nível de estresse, um quadro de esgotamento psíquico e físico, inclusive com casos de hipertensão arterial, diabete, agravamento de doenças crônicas.

O psicanalista Gustavo Alarcão lembra que muitos não puderam manter o isolamento social e precisaram se arriscar. “Ao mesmo tempo, aqueles que conseguiram ficar em casa estão se exaurindo. Acabam as ideias, a criatividade, sobrevém tristeza e também raiva diante das impotências e dos limites”.

O especialista dá um exemplo prático sobre a sensação de exaustão. “Faça um teste simples: tente segurar um peso qualquer nas mãos. Você verá que será insustentável. Fisicamente, nossos limites são mais claros, quando o músculo se exaure, o peso cai. Psicologicamente, eles não são tão nítidos”.

O psicanalista Gustavo Alarcão, do Núcleo de Psicanálise do Serviço de Psicoterapia do IPq-HC Foto: arquivo pessoal

 

Dicas para cuidar da saúde mental em meio à pandemia

Gustavo Alarcão ressalta que, se você chegou ao limite, deve assumir, encarar e se respeitar: “Não há mágica que consiga me fazer ir além. É importante dar um passo atrás, dividir e compartilhar os pesos e recuperar o significado da vida, se possível for. Outras vezes precisamos nos reconfigurar. Temos dificuldade em aceitar nossas fragilidades, carências e necessidades. Gostamos mais de nos desafiar, de bater metas e recordes. Muitas vezes o esgotamento vem de uma negação da própria realidade, literalmente falando. Não somos máquinas e não basta acionar botões e pronto”.

Gesika Amorim dá algumas dicas práticas para manter o equilíbrio, como assistir algo que te dê prazer, ter bons momentos com amigos e família, e usar a internet para consumir cultura. “Manter uma boa alimentação, atividade física, meditação, oração, reiki, qualquer atividade relaxante ou hobby que te faça desacelerar. É necessário se auto regular e, principalmente, nunca ter vergonha de pedir ajuda. Ao menor sinal de necessidade, procure um médico e psicoterapia. Busque um psicólogo, um grupo de apoio e o mais importante: precocemente”.

Diminuir o ritmo não fará de você uma pessoa frágil ou perdedora aos olhos do outro. Seja menos exigente e mais generoso consigo. Expressar e compreender o que está sentindo, contextualizando sua própria realidade, pode ser um caminho mais leve.

As plantas serão prescritas como uma forma de tratamento de saúde mental.

As plantas serão prescritas como uma forma de tratamento de saúde mental.

O presidente do Royal College of Psychiatrists acredita que plantas domésticas, exercícios e jardinagem devem ser prescritos como tratamentos de saúde mental.

Dr. Adrian James acredita que, além da terapia e medicação, os médicos logo recorrerão à “prescrição social”, e que alguns já o fizeram. De acordo com o Dr. James, os pacientes podem se beneficiar “alimentando uma criatura viva e dando-lhe algum significado”.

Ele estava defendendo o co-apresentador da ITV Love Your Garden, David Domoney, cuja exposição do Chelsea Flower Show continha plantas que promovem o bem-estar e que diziam que humanos e plantas tinham uma “interação simbiótica dentro de casa”.

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