Restaurantes agregam detalhes ao serviço e viram opção para ‘miniweddings’

DANIELLE NAGASE
DE SÃO PAULO

A chef Danielle Dahoui quebrou o protocolo quando adentrou em seu Ruella vestida de noiva, carregando um buquê de flores cor de rosa. Organizou tudo sozinha: aproveitou o cenário romântico do restaurante, vestiu os garçons de anjo, contratou o juiz de paz.

O burburinho de 1999 chamou a atenção de futuras noivas. “De lá em diante nunca mais parei de fazer”, orgulha-se.

O tino de Danielle despertou para o negócio. Pensando na agenda de matrimônios, ela abriu outras duas unidades do restaurante. A de Pinheiros, desde a inauguração, em 2011, reserva o horário do almoço aos sábados para celebrações.

Comer, beber, casar

Casamento à brasileira, produzido pela chef Ana Luiza Trajano Por: Alexandre Schneider/Divulgação 31/03/2016

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No Itaim Bibi, a casa (a menor entre as três, aberta em 2015) foi concebida para promover “microweddings” (para 20 convidados) e onde foi, inclusive, celebrada a união do “casal instagramer” Shanteus, formado pela relações-públicas Shantal Abreu e pelo modelo Mateus Verdelho, no mês passado.

Dahoui é veterana no ramo de casamentos, que a despeito da crise econômica (ou por causa dela) segue recrutando restaurateurs. Greigor Casley e Jean Ponce, respectivamente chef e barman do Guarita Bar, em Pinheiros, estrearam recentemente outro braço da marca, que atua na área de bufês.

A ideia do Guarita Festas é levar o espírito, as comidas (sim, o bolovo!) e os drinques do bar para eventos de todo tipo, inclusive casamentos. A nova empreitada veio para “complementar a renda, já que a margem de lucro do bar não é muito boa”, diz Greigor.

O chef Rodrigo Oliveira, do Mocotó, também atinou para o mercado de casamentos, mas, em vez de se aventurar na área, preferiu deixar a logística dos eventos por conta do bufê Arroz de Festa.

A parceria rendeu a assinatura Mocotó Festas, que promove eventos bem brasileiros, em diferentes formatos. Dá, por exemplo, para transformar o casório num boteco sertanejo, com direito a caipirinhas e dadinhos de tapioca, ou numa celebração mais elegante, no estilo do Esquina Mocotó.

ABAIXO CINDERELA

“Não posso reclamar, sempre tive sorte com nossas noivas”, diz Tatiana Sahagoff, sócia do Cantaloup, que cuida pessoalmente dos preparativos das festas. “Quem escolhe se casar num restaurante tem uma concepção diferente do matrimônio, é mais pé no chão”, acredita, apesar de já ter lidado com o chilique de uma jovem que não estava contente com o seu buquê. “Acontece, e a gente vira meio psicóloga para ajudar.”

Avessos aos contos de fada, casais, que geralmente pagam a conta, buscam simplificar (e baratear) a festa, numa cerimônia mais íntima, com menos convidados.

“Em dez dias mais ou menos, consigo organizar um casamento”, afirma João Paulo Gentille, do Praça São Lourenço, restaurante cuja concepção foi pensada para receber esse tipo de evento.

Em espaços mais ou menos reservados —como a área externa cercada por árvores e com um minilago—, a casa consegue celebrar casamentos sem atrapalhar a operação do restaurante. “Procuramos deixar a festa o mais isolada possível, mas como as paredes são de vidro, às vezes dá para espiar um pouquinho. Ninguém reclama, todo mundo gosta de ver a noiva”, conta João Paulo. Mas é preciso controlar excessos. “Não dá para contratar uma superbanda”, pondera.

No La Casserole, a restauratrice Marie France-Henry oferece aos noivos uma sala privativa para 45 pessoas ou fecha a casa em dias e horários menos movimentados.

Certa vez, ela se lembra, um casal preferiu reservar uma mesa no jantar a fazer uma festa, mesmo que singela. Os convidados chegaram no restaurante vestidos a caráter “e os demais clientes ficaram admirados. Deu muito certo”, conta saudosa.

Também pudera, o La Casserole é, por si só, um espaço inspirador: repare no salão, elegante, nos garçons de gravata borboleta, no menu francês e, como não citar, nas bancas de flores do largo do Arouche, logo em frente. Não é preciso muito mais para se casar ali.

NEXT DOOR

Os festejos no Marakuthai ganharam espaço nos negócios do restaurante em 2010, com a onda de paulistanos que queriam se casar em Ilhabella, no litoral norte, onde fica a matriz à beira-mar.

Em 2013, os casórios passaram a ser promovidos também nas unidades de São Paulo, com cardápio baseado nas especialidades da casa, mas sempre “com uma pitada da história dos anfitriões”, diz Aline Frey, sócia da chef Renata Vanzetto, que certa vez serviu sanduíches de carne louca tirados do caderno de receitas da avó da noiva.

Com a demanda crescente de casamentos —e a dificuldade de conciliar a agenda dos noivos com a operação do restaurante—, a dupla prepara-se para inaugurar em abril a Casa Marakuthai, na alameda Itu, voltada exclusivamente para eventos. Com o novo espaço, os restaurantes passam a receber festas somente no mezanino, com a casa operando no andar de baixo normalmente.

Helena Rizzo e Daniel Redondo também cansaram-se de receber pedidos para “fechar” o Maní num dia de celebração. Como o restaurante é o foco do negócio, resistiram até vagar o imóvel ao lado e, então, transformaram-no na Casa Manioca, palco de casamentos, aniversários e eventos corporativos. Tanto a decoração quanto o cardápio seguem a cartilha da casa-mãe, diferentemente da logística, que é independente, com cozinha e funcionários próprios.

Assim é também a rotina do Buffet e do Bistrot Charlô, ambos tocados pelo chef Charlô Whately. As festas, mais de 20 anos atrás, eram preparadas na cozinha do restaurante. “A demanda foi crescendo, fomos nos adaptando e, quando vi, já tinha um bufê”, brinca Charlô.

DANÇA DAS PANELAS

Há quem tenha zarpado de vez para área de bufês. No caso da chef Renata Cruz, do Amici, a procura por festas aumentou tanto que o “bufê passou a brilhar mais que o restaurante”. Foi, então, que ela fechou a casa no Itaim Bibi em 2013 e instalou uma cozinha de produção na Chácara Santo Antonio, onde recebe os noivos (e os pais deles) para degustação do cardápio.

Bel Coelho também colocou o restaurante Dui para escanteio e, hoje, quando não está ocupada com seus jantares temáticos (oferecidos por temporadas), abre espaço no Clandestino, no Beco do Batman, para promover “miniweddings”.

No cardápio festivo, podem aparecer as manjubinhas na tapioca com molho ponzu de caju e o penne ao molho de pinhão, cogumelos e vinho branco.

Algo bem brasileiro, assim como nos casamentos no Instituto Brasil Gosto, antigo restaurante da chef Ana Luiza Trajano, no Jardim Paulista, que trabalha com decoração mais rústica, e, no lugar dos bem-casados, sugere colocar minibolos de rolo.

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