RIO — Setembro marca a chegada da primavera no Brasil, estação do ano associada ao renascimento e ao recomeço . O GLOBO-Barra foi atrás de quem mudou de vida justamente a partir do contato com o maior símbolo da primavera, as flores. Pessoas que deram uma guinada na trajetória profissional, muitas vezes deixando para trás uma carreira bem-sucedida, para fazer da tarefa de enfeitar o mundo seu jeito de ganhar o sustento.

Renata Paraiso era uma advogada com futuro promissor na área. Pós-graduada, com publicações em livros acadêmicos e se preparando para um concurso de promotora, interessou-se pelo paisagismo como hobby, um descanso na rotina de estudos de Direito. Há 13 anos, quando se mudou para uma casa no Itanhangá, começou a planejar como seriam os jardins da casa. Oito anos mais tarde, uma amiga pediu para fazer sua festa de casamento no local. Renata providenciou a decoração do evento e, ali, viu uma oportunidade de negócio.

— Percebi que estavam chegando ao Brasil outros conceitos de festa de casamento, eventos diurnos e externos. Senti que eu podia oferecer uma decoração menos tradicional, uma coisa mais leve, com uma quantidade menor de flores, mas apostando mais em combinações — conta.

Luis Felipe de Albuquerque era dono de uma confecção de roupas, hoje faz arranjos de ikebana Foto: Bruno Kaiuca / Agência O Globo
Luis Felipe de Albuquerque era dono de uma confecção de roupas, hoje faz arranjos de ikebana Foto: Bruno Kaiuca / Agência O Globo

Renata expandiu o estudo do paisagismo para o campo das flores e arranjos florais e começou a fazer eventos, especialmente casamentos. Há três anos, inaugurou o Lago Buriti , casa de festas em Guaratiba que também funciona como seu ateliê e recentemente foi cenário do casamento de Maria da Paz, personagem de Juliana Paes em “A dona do pedaço ”, novela das 21h da Rede Globo.PUBLICIDADE

— Trabalhar com a natureza é muito especial. Minha religião é o amor, e acho que a natureza proporciona essa sensação boa. É um privilégio reunir flores, fazê-las ficarem bonitas uma perto da outra — comenta Renata, que já decorou o casamento de atrizes como Isis Valverde e Karina Bacchi. — É ainda mais especial decorar um casamento, ser coadjuvante daquele que é um dos capítulos mais importantes na vida de um casal.

Para Luís Felipe de Albuquerque , morador do Recreio, o chamado veio por meio da religião. Ele começou a frequentar a Igreja Messiânica no final dos anos 1980, e lá teve contato pela primeira vez com a ikebana, técnica japonesa que dá nova vida às flores para enaltecer ainda mais sua beleza, através de composições minimalistas com outras flores e plantas. Ele era sócio de uma confecção de roupas masculinas, e as coisas não estavam indo bem. Ocasionalmente, fazia trabalhos de decoração para amigos. O ponto de virada foi a Rio-92, conferência da ONU realizada no Rio.

— Eu fui bater na porta dos consulados oferecendo meus serviços. Decorei mais de 20, como os de Itália, França e Inglaterra. Ali fiz amizades que me abriram portas — conta.PUBLICIDADE

Há 15 anos ele faz arranjos florais para a Rede Globo. Decora o cenário de programas como “Mais você”, “É de casa” e “ The voice” e de novelas. Suas flores também são parte da decoração do BarraShopping e das lojas da H.Stern. Trabalhar com flores mudou a vida de Albuquerque para melhor não só no aspecto financeiro:

— É muito emocionante poder transformar as flores em algo mais belo e partilhar isso com o mundo. Acredito nesse poder das flores, tanto que uma vez por mês faço pequenos arranjos e entrego pessoalmente aos moradores do Retiro dos Artistas.

Paulo Tavares deixou o emprego em um banco para trabalhar com flores Foto: Bruno Kaiuca / Agência O Globo
Paulo Tavares deixou o emprego em um banco para trabalhar com flores Foto: Bruno Kaiuca / Agência O Globo

Para o empresário Paulo Tavares , as flores são, mais do que um jeito de ganhar a vida, uma missão. A Per Amore Flores , sua empresa, funcionou em um quiosque dentro da Perinatal da Barra de 2011 até junho deste ano. Teve que deixar o ponto por mudanças na orientação da administração, mas isso não o desanimou. Tavares comprou um carrinho e expõe suas flores na porta da maternidade.

— Não queria abandonar meus clientes. Mesmo vendendo pela internet, queria que soubessem que estamos disponíveis. — explica. — Quando faço um arranjo, imagino os sentimentos que ele vai provocar. Meu produto são as flores, mas meu negócio é promover o amor e emoções entre as pessoas.PUBLICIDADE

Tavares trabalhou 18 anos em um banco. Formado em Ciências Contábeis, dava assessoria para uma funerária nas horas vagas. Em 2008, saiu do emprego e abriu uma floricultura em Nova Iguaçu. Em 2011, transferiu seu negócio para a Perinatal. Hoje, o carrinho funciona no esquema de “pegue e pague”.

— A pessoa escolhe o arranjo, leva e entra em contato pela internet ou por telefone, para eu enviar o código do boleto para o pagamento. Nunca tive problemas com esses sistema — garante.

Satisfeito com a mudança de vida proporcionada pelas flores, ele pensa em expandir o negócio:

— Meu plano é ter pelo menos mais um carrinho e abrir um quiosque.

Eloise Catelan (esquerda) e Vitoria Liberal criaram juntas a Flowers4you Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Eloise Catelan (esquerda) e Vitoria Liberal criaram juntas a Flowers4you Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo

Já Eloise Catelan e Vitória Liberal, da Flowers4you, se conheceram em um grupo de ciclismo. Vitória é técnica de radiologia, mas estava há 17 anos sem trabalhar, desde o nascimento do segundo filho. Eloise é fotógrafa. Ambas buscavam novos negócios. Vitória sempre gostou de flores, e uma amiga sugeriu que trabalhasse com arranjos. Foi na mesma época em que Eloise propôs que trabalhassem juntas.

— Procurei a Vitória porque tínhamos uma sintonia — conta Eloise.PUBLICIDADE

— E eu tinha acabado de decorar um evento para uma amiga. No primeiro dia em que nos reunimos, foram surgindo ideias, nome, projeções — completa Vitória.

A Flowers4you faz sobretudo decoração de eventos e composição de buquês.

— Procuramos usar flores especiais. É capaz de recusarmos um trabalho se a pessoa pedir só bromélias, gérberas ou mosquitinhos. Preferimos trabalhar com flores que podem virar arranjos lindos, sem necessariamente terem preço absurdo — diz Eloise.

Com dois anos, a empresa começa a render frutos. Mas, para Vitória, a chance de trabalhar com flores é o mais importante:

— Flor é bonito, tem cheiro bom, enfeita o ambiente e alegra as pessoas.

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